A ansiedade é um sentimento aflitivo, caracterizado por incômodo e tensão da antecipação do desconhecido. Uma reação natural do nosso corpo que emerge a todo momento quando nós sentimos ou entendemos que estamos sendo ameaçados, gerando uma reação em cadeia que envolvem vários sintomas físicos e cognitivos que não são muito agradáveis de sentir e que tem a tendência de serem minimizados após a interrupção daquilo que é compreendido como ameaça.

Mas por que será que esse sentimento aumentou tanto nas crianças e adolescentes no pós pandemia?

Quando a notícia da pandemia se espalhou e o quão grave ela se tornou ao longo dos anos, acredito que foi praticamente impossível para cada um de nós não nos sentirmos ansiosos ou ameaçados de alguma forma em algum momento durante todo esse período.

O efeito sobre a saúde mental de crianças e adolescentes foi devastador e ainda continua sendo constantemente a cada dia.

Temos colhido frutos desse processo ao longo desses últimos dois anos que desafiam todos nós profissionais da saúde mental, pais, mães, profissionais que trabalham de alguma forma ligados à infância e a adolescência e muito sofrimento a eles mesmos, as principais vítimas desse processo todo, as crianças e adolescentes.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), “pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada por lockdowns”, porém houveram várias outras perdas relacionadas à educação, contato social, economia e com a saúde. 

Esse impacto do aumento da ansiedade é global, diversos países relataram o mesmo quadro de jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro.

De acordo com a American Association of Suicidology, um em cada cinco jovens relata já ter se ferido para aliviar algum tipo de desconforto psicológico após a vinda do COVID-19. A automutilação é assunto de algumas séries popularmente conhecidas pelos jovens, como “13 Reasons Why”, “Riverdale”, “Euphoria” e “You” (BARBIRATO, F.), e em meio ao caos da pandemia muitos jovens entraram em contato com traumas e não souberam lidar com essa situação de maneira saudável.  

Por exemplo, uma pesquisa online na China no início de 2020, citada no relatório Situação Mundial da Infância 2021, indicou que cerca de um terço dos entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade. (UNICEF)

Com o retorno às aulas, professores e diretores de escolas relatam alunos com diversos sintomas de ansiedade, como: 

Entre outros sinais que, acabam levando a criança e/ou adolescente a se ausentarem das aulas e perderem as provas.

Tanto tempo de isolamento social, ambientes familiares perturbados, a exaustão pelas aulas online, a preocupação e a ansiedade geradas pelo agravamento do cenário do vírus, perdas e luto, já seriam e foram bem difíceis e geradores de muito sofrimento e sintomas de ansiedade e de depressão em crianças e jovens.

Mas como se isso não fosse mais do que o suficiente, ainda temos um cenário em que tudo isso aconteceu, com uma geração sem base forte o suficiente em termos de educação emocional, resiliência e capacidade de tolerar e gerir frustrações.

Quando associamos todo esse pacote, a soma não é nada positiva, muito pelo contrário. O cenário tem sido assustador e devastador agora com a retomada da exposição, da pressão social, do retorno às cobranças de provas e das escolas e de professores e sociedade escolar em geral, não muito preparada para lidar com todo esse cenário.

O resultado disso tem sido noticiado em sites, redes sociais, revistas e blogs de notícias.

Temos visto adolescentes entrando em crises de ansiedade de forma coletiva, aumento pela busca de serviços de saúde mental, consultórios de psicólogos que trabalham com a infância e a adolescência lotados, entre diversas outras questões.

Mas e aí? Qual será nosso papel diante de tudo isso? Quanto tempo ainda lidaremos com tudo isso? Como podemos auxiliar a promoção da saúde mental de nossas crianças e jovens no meio disso tudo?

Algumas dicas podem ajudar:       

Auxiliar os jovens na compreensão das suas angústias e em como lidar com os pensamentos e o enfrentamento de forma positiva, talvez seja o maior recurso que podemos deixar para eles enquanto adultos.

E se recorrer às redes de apoio e as tentativas com as dicas e atividades acabarem não funcionando, não têm problema em pedir ajuda de um especialista na área, como um psicólogo, para auxiliar as crianças e os jovens.

Afinal, estamos aqui com o propósito de promover um amparo maior nesse período de pós pandemia em que estamos vivendo e medicações também podem ser necessárias em conjunto com a psicoterapia.

Quanto tempo ainda tudo isso vai durar? Não temos como saber! Tudo o que estamos vivendo, ainda é novo para todos nós! Mas o que sabemos, é que além da Pandemia da Covid, estamos também vivendo uma Pandemia da Saúde Mental, que precisa ser cuidada e olhada com alerta, cautela e muito cuidado!

Talvez o mesmo cuidado ou até maior do que o cuidado com que temos olhado para tudo isso que temos vivido com a Covid, afinal de contas, saúde mental é fator primordial para imunidade em dia, não é mesmo?

*Texto escrito por Renata Lela Psicóloga (CRP: 06/68519) e pela estagiária em Psicologia Clínica Sarah Letícia Ramalho.

REFERÊNCIAS:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress